Sempre fui encantada — e até um pouco obcecada — por personagens diferentes e coloridos, com cara de quem tem vida própria. Acho que tudo começou com ela: a lagarta gigante da montanha-russa dos parques de diversões de bairro, desses itinerantes que chegam e somem como num passe de mágica. Sempre achei aquilo mais que um brinquedo — parecia uma aberração que ria pra mim.
Na obra "Minhocão", quis resgatar essa memória do início dos anos 2000, mas de um jeito meio onírico. Um parque todo aceso, com luzes e movimento… mas sem ninguém. Como uma lembrança esquecida no tempo. A lagarta ainda tá lá, sorrindo, colorida, mas cercada de silêncio.
Enquanto criava a pintura, pesquisei muito sobre a origem desse brinquedo — quem criou o design, de onde veio essa ideia — mas não encontrei quase nada. Só que o Minhocão fez muito sucesso nos anos 80s e 90s, sendo lembrado até hoje por quem viveu a infância nesses parques de bairro. Talvez esse mistério em torno dele só aumente o fascínio que tenho até hoje.
Tem algo de lúdico, mas também algo de estranho — como costuma acontecer quando a gente revisita lembranças antigas com o olhar mais maduro. O contraste entre o colorido quase exagerado do brinquedo e a atmosfera de abandono ao redor cria essa tensão entre o passado e o presente, entre o sonho e o real.
É uma pintura que fala muito da minha infância, mas também da forma como encaro o tempo: com um pé na nostalgia e outro na fantasia. Um lugar onde a memória infantil viu de um jeito, e a adulta vê de outro.