Inspirada na tradição da natureza morta, especialmente nas obras clássicas de pintura a óleo que retratam alimentos, tive um sonho revelador em que comia tinta. O sabor e a textura eram semelhantes a chantilly com corante, e isso me fez recordar a história de Van Gogh, que, supostamente, comia tinta amarela para se sentir mais alegre, já que o amarelo é considerado uma cor vibrante e cheia de vida.
A partir desse sonho, comecei a refletir sobre duas metáforas que gostaria de explorar em minha obra. A primeira delas é a ideia de que "o pão nosso de cada dia" pode ser substituído por um pão coberto de tinta, simbolizando a arte como uma necessidade essencial da vida, algo tão básico quanto a alimentação. A segunda metáfora aborda a realidade financeira do artista em nossa sociedade, onde ser artista muitas vezes é visto como um caminho para o fracasso financeiro. Nessa visão, o artista escolhe gastar com a própria tinta, em vez de investir em um recheio para o pão, sugerindo a escolha de alimentar a alma através da arte, mesmo que isso signifique uma renúncia material.
O espectador será convidado a decidir como interpretar essas metáforas, com a tinta usada na obra sendo o azul de manganês, um pigmento altamente tóxico, trazendo uma conexão com algumas das minhas obras anteriores, como a série "Corote Sabor Césio 137".